quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Comunicação e Risco


Esta postagem de hoje é baseada no artigo de RANGEL-S. Maria Lígia. Comunicação no controle de risco à saúde e segurança na sociedade contemporânea: uma abordagem interdisciplinar, e a nossa prática em Ilha de Maré.

A Teoria Bala na comunicação surge na década de 20, com forte influência Behaviorista e funcionalista, e apresentava uma relação direita dos transmissores e receptores por sua mensagem, onde a comunicação de massas tinha a função de influenciar os comportamentos humanos.
Já no contexto de pós guerra, intensifica-se a crítica a intencionalidade dos meios de comunicação e a quais interesses estavam servindo. A comunicação passa a ser vista como uma indústria cultural de estímulo ao consumo e a interação entre o emissor e receptor, definida como um processo que modifica-se através dos espaços sociais, em um modelo teórico ideológico sem neutralidade.
Depois o artigo explicita que com Habermas, a ação comunicativa é vista como o reconhecimento intersubjetivo pelos sujeitos e precisa ser validada (BOUFLEUR, 2001). Na comunicação em saúde, por exemplo, informar e comunicar são coisas distintas, ou seja, há uma disparidade das técnicas da educação formal e a necessidade de troca e formação cotidiana do comunicar em saúde.
O risco em saúde, segundo Lucheese (2001), traz um conhecimentos (metodologia) que avalia e deriva a probabilidade de acontecer um efeito adverso por um agente (químico, físico, biológico, etc), processos industriais, tecnologias ou processo natural. Esses acontecimentos são quase todos relacionados a algum dano a saúde, a doenças e, até mesmo, a morte.
Ações comunicativas mais horizontais e a participação como direito de cidadania objetivam o encontro de diferentes sujeitos sociais e podem criar mecanismos de tal modo a proteger a própria vida. A tentativa de criar relações de poder menos desiguais, são mecanismos essenciais para o êxito de saídas conjuntas para redução de danos e agravos em contextos críticos.
No caso da comunidade de Bananeiras em Ilha de Maré, as condutas de prevenção e proteção de risco são associadas a noção daquela comunidade sobre o que é contaminação. São os próprios moradores que identificam poluições no cotidiano de trabalho e vivências na área. Os pescadores e marisqueiras são acometidos por patologias alérgicas, pulmonares, entre outras, e associam o adoecimento com o contato com substâncias muitas vezes desconhecidas que surgem na região.
As situações de conflito com o polo industrial vizinho é evidente. Nessa relação, são os moradores que tem seus direitos violados a cerca da falta de controle na ocorrência de acidentes químico, somado a ausências de uma rede socio-assistencial de políticas públicas.
A comunicação de risco, como observamos na visita, fica muitas vezes a cargo dos moradores: O alerta de isolamento de áreas, orientações para o não consumo de alimentos, etc, pois tentam proteger suas vidas certeiros que a ação estatal chegará atrasada e ineficiente.
Outro aspecto importante que debatemos em sala foi o relato das residentes em saúde coletiva que desenvolveram trabalho no distrito do subúrbio (onde situa-se Ilha de Maré), eles expuseram a ausência de informação dos serviços de saúde sobre quem é essa população: quilombolas, pescadores artesanais, a sua situação de saúde, etc. Fato que pode explicar uma das múltiplas causalidades de não termos observado bons relatos de boas práticas de promoção da saúde, ou de ações de comunicação de risco relevantes na visita em que fizemos.
Aos próximos encontros nos cabe observar a cultura organizacional de como a informação circula entre os moradores, e suas preferências de instrumentos comunicativos. Temos o desafio de construir conjuntamente um produto que consiga trazer a tona essa realidade ao qual objetivam mudanças.
O olhar dos moradores e moradoras sob o que é risco, a linguagem e dinâmicas na sua realidade precisam sensibilizar o mundo acadêmico e os gestores. A nós cabe buscar seguir as orientações de Rangel-S (2007) em sua obra, desenvolver uma intervenção sensível para recepções e mediações socioculturais, afastar-nos dos padrões de condutas ideais. e gerar estratégicas úteis que traga ampliação do controle social e da percepção do direito a saúde.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Educação, Comunicação, Saúde e Eu


Aqui estamos hoje para falar sobre mim e minhas reflexões sobre a Educação, Comunicação em Saúde. A ideia proposta seria buscar textos anteriores, todavia, nessa vida de mudanças e perdas de papéis, vou ter que me atrever a resgatar nas minhas lembranças os aprendizados do semestre passado sobre o tema.
A comunicação estabelece-se por uma via de mão dupla entre pessoas, ou seja, o dizer é ressignificado pelas múltiplas apropriações das informações. A educação transformadora também segue o mesmo princípio de ser dialógica, mais horizontal possível, buscando a autonomia, para potencializar as singularidades e criatividades dos envolvidos. Assim, o Modelo de Atenção a Saúde em que acreditamos deve estar ao encontro dessas premissas. O contato com o saber popular do território e as técnicas trazidas pelos profissionais de saúde devem ser mediadas para uma práxis que possibilite uma síntese - a do encontro de saberes e da intensa participação comunitária.
Coloquei hoje uma foto de uma palestra que fiz em Prado sobre desafios da saúde na crise política para Agentes de Saúde e Endemias promovida pelo sindicato da categoria. Ao chegar ao local, falei da conjuntura nacional, de financiamento, crises dos pactos federativos, etc etc.
Por sorte, não me alonguei muito e comecei a tentar perceber sobre o que de fato aquelas pessoas queriam falar sobre. Abri para perguntas e foi uma surpresa.
Basicamente o público queria falar sobre o sofrimento psíquico que tinham no trabalho. Interessante como há poucos espaços de fala e escuta dessas demandas e como é necessário que os espaços dos movimentos sociais propiciem esses momentos. Achei as pessoas bem à vontade. Claro que houveram arenas de conflito, mas quem disse que necessariamente o conflito é ruim?
Tentei contribuir no que podia; associei um pouco ao projeto ético político, o qual aprendi no Serviço Social (que pode ser associado a qualquer profissão), e os desafios de aplicá-lo à realidade. Disse sobre como não cair no fatalismo e messianismo ser algo essencial para a saúde mental. Falei mais sobre minhas percepções no mundo do trabalho, como é meu processo de resiliência, a necessidade de ter clareza do nosso projeto profissional frente às dificuldades. Senti-me acolhida e percebi que muitos se identificaram com o que eu falava. 
Trocamos impressões sobre casos, sobre as constantes mudanças repentinas das gestões das prefeituras, e muitos outros assuntos. Uma conversa tão aberta: sem patrões e censores. Aprendi bastante, sai confiante e reflexiva de como precisamos mais um do outro e de espaços coletivos de construção. 
Refleti bastante sobre como a gestão do processo de trabalho é um desafio para o SUS e a comunicação uma aliada estratégica para tal.
Por fim, saí sensibilizada e disposta a aprender mais. Acredito nas pessoas.