Esta
postagem de hoje é baseada no artigo de RANGEL-S. Maria Lígia.
Comunicação no controle de risco à saúde e segurança na
sociedade contemporânea: uma abordagem interdisciplinar, e a nossa
prática em Ilha de Maré.
A
Teoria Bala na comunicação surge na década de 20, com forte
influência Behaviorista e funcionalista, e apresentava uma relação
direita dos transmissores e receptores por sua mensagem, onde a
comunicação de massas tinha a função de influenciar os
comportamentos humanos.
Já
no contexto de pós guerra, intensifica-se a crítica a
intencionalidade dos meios de comunicação e a quais interesses
estavam servindo. A comunicação passa a ser vista como uma
indústria cultural de estímulo ao consumo e a interação entre o
emissor e receptor, definida como um processo que modifica-se
através dos espaços sociais, em um modelo teórico ideológico sem
neutralidade.
Depois
o artigo explicita que com Habermas, a ação comunicativa é vista
como o reconhecimento intersubjetivo pelos sujeitos e precisa ser
validada (BOUFLEUR, 2001). Na comunicação em saúde, por exemplo,
informar e comunicar são coisas distintas, ou seja, há uma
disparidade das técnicas da educação formal e a necessidade de
troca e formação cotidiana do comunicar em saúde.
O
risco em saúde, segundo Lucheese (2001), traz um conhecimentos
(metodologia) que avalia e deriva a probabilidade de acontecer um
efeito adverso por um agente (químico, físico, biológico, etc),
processos industriais, tecnologias ou processo natural. Esses
acontecimentos são quase todos relacionados a algum dano a saúde, a
doenças e, até mesmo, a morte.
Ações
comunicativas mais horizontais e a participação como direito de
cidadania objetivam o encontro de diferentes sujeitos sociais e podem
criar mecanismos de tal modo a proteger a própria vida. A tentativa
de criar relações de poder menos desiguais, são mecanismos
essenciais para o êxito de saídas conjuntas para redução de danos
e agravos em contextos críticos.
No
caso da comunidade de Bananeiras em Ilha de Maré, as condutas de
prevenção e proteção de risco são associadas a noção daquela
comunidade sobre o que é contaminação. São os próprios moradores
que identificam poluições no cotidiano de trabalho e vivências na
área. Os pescadores e marisqueiras são acometidos por patologias
alérgicas, pulmonares, entre outras, e associam o adoecimento com o
contato com substâncias muitas vezes desconhecidas que surgem na
região.
As
situações de conflito com o polo industrial vizinho é evidente.
Nessa relação, são os moradores que tem seus direitos violados a
cerca da falta de controle na ocorrência de acidentes químico,
somado a ausências de uma rede socio-assistencial de políticas
públicas.
A
comunicação de risco, como observamos na visita, fica muitas vezes
a cargo dos moradores: O alerta de isolamento de áreas, orientações
para o não consumo de alimentos, etc, pois tentam proteger suas
vidas certeiros que a ação estatal chegará atrasada e ineficiente.
Outro
aspecto importante que debatemos em sala foi o relato das residentes
em saúde coletiva que desenvolveram trabalho no distrito do subúrbio
(onde situa-se Ilha de Maré), eles expuseram a ausência de
informação dos serviços de saúde sobre quem é essa população:
quilombolas, pescadores artesanais, a sua situação de saúde, etc.
Fato que pode explicar uma das múltiplas causalidades de não termos
observado bons relatos de boas práticas de promoção da saúde, ou
de ações de comunicação de risco relevantes na visita em que
fizemos.
Aos
próximos encontros nos cabe observar a cultura organizacional de
como a informação circula entre os moradores, e suas preferências
de instrumentos comunicativos. Temos o desafio de construir
conjuntamente um produto que consiga trazer a tona essa realidade ao
qual objetivam mudanças.
O
olhar dos moradores e moradoras sob o que é risco, a linguagem e
dinâmicas na sua realidade precisam sensibilizar o mundo acadêmico
e os gestores. A nós cabe buscar seguir as orientações de Rangel-S
(2007) em sua obra, desenvolver uma intervenção sensível para
recepções e mediações socioculturais, afastar-nos dos padrões de
condutas ideais. e gerar estratégicas úteis que traga ampliação
do controle social e da percepção do direito a saúde.