quarta-feira, 29 de março de 2017

CULTURA E RISCO


Os estudos de risco devem compreender as diferenças culturais dos povos envolvidos, a busca de um paradigma voltado aos sujeitos/usuários centrando seu planejamento e intervenção não mais de forma burocratizada em um modelo biomédico e distante das necessidades sociais.
Os ditos modelos e práticas de comunicação devem se adequar às particularidades da comunidade, devemos agir de forma dialógica a objetivar a comunicação para prevenção do risco, o acolhimento, troca de saberes, minimizar as vulnerabilidades e potencializar a produção de saúde.
A comunicação também vive esse paradigma, passa por arenas de disputa de projetos societários e é pressionada para que deixe de ocupar o lugar de não reconhecimento do outro e engessamento de suas funções sociais transformadoras.
Ações interventivas expressam as múltiplas interpretações sobre o que é risco que mudam historicamente e de acordo com os sujeitos. As tecnologias advindas das relações interdisciplinares da epidemiologia, estudos de risco, as teorias da comunicação, técnicas da vigilância em saúde, saberes tradicionais e entre muitas outras tecnologias podem ser apropriadas na intersecção do saber científico e popular.  
Observa-se também, que precisamos romper as barreiras da neutralização do risco, onde prova-se que os sistemas técnicas de controle não podem ser confiados cegamente e a prevenção e o controle  devem ser incorporados para não ocultar os problemas.
Existe uma ideologia hegemônica que tenta aprisionar os moradores: os culpa sobre a falta de condições de higiene adequadas, tenta esconder a ausência histórica do Estado nas políticas de saúde, saneamento, e aponta uma dimensão individual de cuidado insuficiente para explicar os danos e agravos vivenciados.
Para além disso, o medo de acidentes químicos na região provoca uma reação defensiva dos pescadores e marisqueiras que muitas vezes se sentem reféns das condições desiguais de poder impostas na sociedade e ficam inertes ao gerenciamento de risco. 
Contudo, ainda há uma resistência firmada daqueles que querem estar em sua terra produzindo e vivendo junto a sua comunidade enfrentando todos os ataques em várias frentes a sua saúde: do empresariado poluente, da renúncia e ausência do Estado no judiciário, legislativo, executivo estadual, municipal, etc. São os que não aceitam o aumento do riscos a saúde frente as desigualdades de forma natural.
Ao próximo semestre espero potencializarmos nossas ações de comunicação em saúde e que possamos gerar condições para nosso plano de trabalho. O desafio é trazer novos conhecimento que amplie as visões de risco em referência as condições reais de vida das pessoas, que venham novos desafios!


Referencia

RANGEL-S, Maria Ligia. Risco Cultura e Comunicação na proteção e promoção da saúde. In: COSTA, E. A. ; RANGEL-S, M. L.. Comunicação em Vigilância Sanitária. Princípios e Diretrizes para uma política. Salvador: Edufba, 2007. (p. 95-114).



  

PLANO DE AÇÃO

Plano de Ação
Problema: Comunicação de risco em Ilha de Maré
Objetivo: Ampliar o olhar da comunidade sobre a situação de risco 
Objetivo específico: Provocar uma reflexão, construir narrativas 
Meta: Exposição do albúm seriado









A partir da análise dos problemas, verificando riscos e causas, formulamos questões estabelecendo 
prioridades para atuação na comunidade de Ilha de Maré.
Definimos ações, análise de viabilidade e desenho de estratégias para adentrar aquela comunidade,
observando as dificuldades e facilidades para alcançarmos nossos objetivos.
Especificamos responsabilidades, prazos e mecanismos de avaliação do nosso trabalho.
Infelizmente não poderá ser executado e espero no próximo semestre possamos fazê-lo.



Sobre materiais impressos


Ao nos comunicarmos por materiais impressos produzimos sentidos sobre nossa prática social, nosso olhar sobre o mundo, impressões sobre nossa realidade dentro do contexto em que existimos. As formas de comunicar podem ser de várias formas, nessas circulam as informações que podem trazer para os sujeitos, atributos e interpretações diversificadas aos que tem acesso.
Para compreender a forma que há essa apropriação, analisemos o público que vai receber a informação, se há interlocução, se o público acolhe e valida a mensagem educativa. 
As estratégicas de troca com a população precisam dialogar com o contexto existencial, social e textual destes e tentar dialogar para que a linguagem seja adequada e o conteúdo assimilado.
Em Ilha de Maré constituiremos um dossiê sobre o levantamento de pesquisas realizadas na área, para comunicar de forma lúdica e popular, para trazer uma relação mais horizontal com aquela população, lançaremos de um roteiro de desenhos e narrativas sobre os principais problemas observados.
Acreditamos que desta forma, nosso material será validado em sua importância e os pescadores e marisqueiras atribuirão sentido ao que buscamos produzir.
O lugar de fala da Universidade ainda é um local de poder que pouco relaciona-se com as comunidades tradicionais. A busca da interlocução em um novo lugar social se faz necessária para essa troca da Universidade com a comunidade. 
O material produzido só potencializa seu alcance em uma via de mão dupla, novos sentidos para o objetivo de identificação da Universidade em seu papel de produção social para que a comunidade a reconheça como instrumento de transformação e pertencente a ela.

Inspirado no texto:

ARAUJO, I. Materiais educativos e produção dos sentidos na intervenção social In: MONTEIRO, S.; VARGAS, E. (Orgs.). Educação, Comunicação e Tecnologia Educacional: interfaces com o campo da saúde.  RJ: FIOCRUZ, 2006. p.49-69.

terça-feira, 21 de março de 2017

A fotografia

A fotografia foi inventada na década de 20 e vem sendo utilizada para registros pessoais, assim como para formalização de documentos e registros históricos. Muitos pesquisadores e a sociedade como o todo, a reconhecem como fonte primária de informação – é essencial compreender o passado e contextos que influenciam o presente.
A imagem parte do olhar de quem a reproduz, os sujeitos são envolvidos em seus contextos sociais, seus valores, suas concepções de interpretação da realidade. Ao passar a mensagem pelo documento – foto que dispõem a sua maneira, evidenciam-se as subjetividades dos indivíduos e a totalidade presente. São produzidas a partir de um lugar social, um contexto histórico, dentro de uma leitura cultural de quem planeja as imagens. Os cuidados metodológicos são para termos uma interpretação sob essas premissas, ou seja, um olhar crítico que dê significado as múltiplas mensagens a serem exploradas.
Por isso, ela é uma fragmento da realidade, pode ter um cenário artificialmente construído e diz muito sobre quem a constitui. Ela tem um espaço sociotemporal definido que evidencia as questões culturais, políticas, étnicas, etc. Compreende-se como um documento - um objeto para gerar conhecimento e trazer reflexões sobre pessoas, lugares e momentos históricos. É também objeto de disputa de poder, sob a apropriação da interpretação do outro sob uma narrativa que é colocada em evidência. Não há um receptor passivo de informações, contudo, há construções sociais hegemônicas formadas no dia dia.
A “educação do olhar” sugerida pelo artigo de Reznik, 2007 busca interpretar o processo de identificação do Dr. Luiz Palmer com suas escolhas fotográficas, evidenciar as peculiaridades da sociedade em que estava inserido e seus valores expostos dentro daquela historiografia - sem vulgares simplificações. As imagens seriam documentos históricos que projetam sentidos e percepções singulares daqueles sujeitos: dos que tiram as fotos e também dos que as interpretam. Não se pode ignorar a bagagem sociocultural dos sujeitos que tem interlocução com as imagens, esse erro faz com que subestimamos o poder de síntese e assimilação singulares das pessoas.
Com essa reflexão, penso que os objetivos de nosso trabalho em Ilha de Maré a partir de ensaios fotográficos são de compreender o significado de Risco em Saúde para aquela comunidade. Os mesmos irão produzir as imagens e revelar seu cotidiano contraditório de enfrentamento às adversidades da natureza, aos perigos dos poluentes, e de tudo que considerem belo ou que os inquietem e queiram que seja exposto e denunciado.
Outro objetivo da nossa futura exposição fotográfica é de propiciar o diálogo das necessidades sociais da comunidade de Bananeiras/Ilha de Maré e as demandas da Universidade. Esses encontros/trocas podem provocar novas oportunidades de aprendizados mútuos – acumular para a conexão do ensino pesquisa e extensão em razão da função social da Universidade.

REZNIK, Luís; ARAÚJO, Marcelo da Silva. Imagens constituindo narrativas: fotografia, saúde coletiva e construção da memória na escrita da história local. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.14, n.3, p.1013-1036, jul.-set. 2007. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v14n3/16.pdf 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Comunicação e Risco


Esta postagem de hoje é baseada no artigo de RANGEL-S. Maria Lígia. Comunicação no controle de risco à saúde e segurança na sociedade contemporânea: uma abordagem interdisciplinar, e a nossa prática em Ilha de Maré.

A Teoria Bala na comunicação surge na década de 20, com forte influência Behaviorista e funcionalista, e apresentava uma relação direita dos transmissores e receptores por sua mensagem, onde a comunicação de massas tinha a função de influenciar os comportamentos humanos.
Já no contexto de pós guerra, intensifica-se a crítica a intencionalidade dos meios de comunicação e a quais interesses estavam servindo. A comunicação passa a ser vista como uma indústria cultural de estímulo ao consumo e a interação entre o emissor e receptor, definida como um processo que modifica-se através dos espaços sociais, em um modelo teórico ideológico sem neutralidade.
Depois o artigo explicita que com Habermas, a ação comunicativa é vista como o reconhecimento intersubjetivo pelos sujeitos e precisa ser validada (BOUFLEUR, 2001). Na comunicação em saúde, por exemplo, informar e comunicar são coisas distintas, ou seja, há uma disparidade das técnicas da educação formal e a necessidade de troca e formação cotidiana do comunicar em saúde.
O risco em saúde, segundo Lucheese (2001), traz um conhecimentos (metodologia) que avalia e deriva a probabilidade de acontecer um efeito adverso por um agente (químico, físico, biológico, etc), processos industriais, tecnologias ou processo natural. Esses acontecimentos são quase todos relacionados a algum dano a saúde, a doenças e, até mesmo, a morte.
Ações comunicativas mais horizontais e a participação como direito de cidadania objetivam o encontro de diferentes sujeitos sociais e podem criar mecanismos de tal modo a proteger a própria vida. A tentativa de criar relações de poder menos desiguais, são mecanismos essenciais para o êxito de saídas conjuntas para redução de danos e agravos em contextos críticos.
No caso da comunidade de Bananeiras em Ilha de Maré, as condutas de prevenção e proteção de risco são associadas a noção daquela comunidade sobre o que é contaminação. São os próprios moradores que identificam poluições no cotidiano de trabalho e vivências na área. Os pescadores e marisqueiras são acometidos por patologias alérgicas, pulmonares, entre outras, e associam o adoecimento com o contato com substâncias muitas vezes desconhecidas que surgem na região.
As situações de conflito com o polo industrial vizinho é evidente. Nessa relação, são os moradores que tem seus direitos violados a cerca da falta de controle na ocorrência de acidentes químico, somado a ausências de uma rede socio-assistencial de políticas públicas.
A comunicação de risco, como observamos na visita, fica muitas vezes a cargo dos moradores: O alerta de isolamento de áreas, orientações para o não consumo de alimentos, etc, pois tentam proteger suas vidas certeiros que a ação estatal chegará atrasada e ineficiente.
Outro aspecto importante que debatemos em sala foi o relato das residentes em saúde coletiva que desenvolveram trabalho no distrito do subúrbio (onde situa-se Ilha de Maré), eles expuseram a ausência de informação dos serviços de saúde sobre quem é essa população: quilombolas, pescadores artesanais, a sua situação de saúde, etc. Fato que pode explicar uma das múltiplas causalidades de não termos observado bons relatos de boas práticas de promoção da saúde, ou de ações de comunicação de risco relevantes na visita em que fizemos.
Aos próximos encontros nos cabe observar a cultura organizacional de como a informação circula entre os moradores, e suas preferências de instrumentos comunicativos. Temos o desafio de construir conjuntamente um produto que consiga trazer a tona essa realidade ao qual objetivam mudanças.
O olhar dos moradores e moradoras sob o que é risco, a linguagem e dinâmicas na sua realidade precisam sensibilizar o mundo acadêmico e os gestores. A nós cabe buscar seguir as orientações de Rangel-S (2007) em sua obra, desenvolver uma intervenção sensível para recepções e mediações socioculturais, afastar-nos dos padrões de condutas ideais. e gerar estratégicas úteis que traga ampliação do controle social e da percepção do direito a saúde.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Educação, Comunicação, Saúde e Eu


Aqui estamos hoje para falar sobre mim e minhas reflexões sobre a Educação, Comunicação em Saúde. A ideia proposta seria buscar textos anteriores, todavia, nessa vida de mudanças e perdas de papéis, vou ter que me atrever a resgatar nas minhas lembranças os aprendizados do semestre passado sobre o tema.
A comunicação estabelece-se por uma via de mão dupla entre pessoas, ou seja, o dizer é ressignificado pelas múltiplas apropriações das informações. A educação transformadora também segue o mesmo princípio de ser dialógica, mais horizontal possível, buscando a autonomia, para potencializar as singularidades e criatividades dos envolvidos. Assim, o Modelo de Atenção a Saúde em que acreditamos deve estar ao encontro dessas premissas. O contato com o saber popular do território e as técnicas trazidas pelos profissionais de saúde devem ser mediadas para uma práxis que possibilite uma síntese - a do encontro de saberes e da intensa participação comunitária.
Coloquei hoje uma foto de uma palestra que fiz em Prado sobre desafios da saúde na crise política para Agentes de Saúde e Endemias promovida pelo sindicato da categoria. Ao chegar ao local, falei da conjuntura nacional, de financiamento, crises dos pactos federativos, etc etc.
Por sorte, não me alonguei muito e comecei a tentar perceber sobre o que de fato aquelas pessoas queriam falar sobre. Abri para perguntas e foi uma surpresa.
Basicamente o público queria falar sobre o sofrimento psíquico que tinham no trabalho. Interessante como há poucos espaços de fala e escuta dessas demandas e como é necessário que os espaços dos movimentos sociais propiciem esses momentos. Achei as pessoas bem à vontade. Claro que houveram arenas de conflito, mas quem disse que necessariamente o conflito é ruim?
Tentei contribuir no que podia; associei um pouco ao projeto ético político, o qual aprendi no Serviço Social (que pode ser associado a qualquer profissão), e os desafios de aplicá-lo à realidade. Disse sobre como não cair no fatalismo e messianismo ser algo essencial para a saúde mental. Falei mais sobre minhas percepções no mundo do trabalho, como é meu processo de resiliência, a necessidade de ter clareza do nosso projeto profissional frente às dificuldades. Senti-me acolhida e percebi que muitos se identificaram com o que eu falava. 
Trocamos impressões sobre casos, sobre as constantes mudanças repentinas das gestões das prefeituras, e muitos outros assuntos. Uma conversa tão aberta: sem patrões e censores. Aprendi bastante, sai confiante e reflexiva de como precisamos mais um do outro e de espaços coletivos de construção. 
Refleti bastante sobre como a gestão do processo de trabalho é um desafio para o SUS e a comunicação uma aliada estratégica para tal.
Por fim, saí sensibilizada e disposta a aprender mais. Acredito nas pessoas.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2017



Aqui se iniciam minhas reflexões sobre a aventura acadêmico cultural na comunidade de Ilha de Maré. Neste blog estarão relatos, poesias, fotografias. São diversas formas para expressar o desbravar dos textos, das novas vivências e aprendizados coletivos e cotidianos junto aos colegas de Saúde Coletiva. Que seja tudo intenso e desafiador! "... Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar..." Paulinho da Viola